Cuidados

Corrida em alta exige atenção aos joelhos: sinais de alerta e como voltar a treinar com segurança

Alternar superfícies — terra, pista e asfalto — também reduz sobrecarga repetitiva

Com o aumento expressivo de corredores nas ruas de Fortaleza, cresceu também o número de queixas relacionadas ao joelho, uma das articulações mais exigidas no impacto da corrida. Embora dores leves possam aparecer após aumento de volume ou intensidade, especialistas alertam que desconfortos persistentes não devem ser considerados “normais”. O Dr. Eduardo Vasconcelos, ortopedista especialista em joelho, explica que a dor deixa de ser parte do processo de adaptação quando interfere na mecânica de corrida, altera a passada ou faz o atleta evitar treinos. “Se a dor persiste por mais de 72 horas mesmo reduzindo a carga, ou se há inchaço, rigidez, calor, travamento ou instabilidade, esse corredor precisa ser avaliado”, orienta.

No consultório, o raciocínio diagnóstico segue etapas. O exame clínico é sempre o primeiro passo, seguido de radiografia, útil para observar alinhamento, artrose inicial e alterações ósseas. O ultrassom pode auxiliar na avaliação de tendões. Já a ressonância magnética, embora não seja indicada para qualquer dor, torna-se essencial quando há suspeita de lesão meniscal, condral ou ligamentar, quadros persistentes por mais de quatro a seis semanas ou presença de travamento e inchaço recorrente. “Usamos a ressonância quando o resultado muda o plano de tratamento ou quando o atleta precisa de retorno rápido e seguro”, explica o especialista.

As lesões mais comuns entre corredores incluem dor patelofemoral, síndrome da banda iliotibial, tendinopatias leves e bursites, normalmente tratáveis com fortalecimento, ajuste de carga, melhora da biomecânica e, em casos selecionados, terapias complementares. Já lesões meniscais com sintomas mecânicos, rupturas ligamentares, condropatias avançadas e edema ósseo importante podem demandar condutas mais complexas, incluindo infiltrações ou cirurgia, dependendo da função e da evolução clínica.

O retorno à corrida, segundo o ortopedista, não pode ser baseado apenas no tempo. “Buscamos critérios objetivos: ausência de dor, força restaurada com pelo menos 85% a 90% de simetria entre os membros, bom desempenho em testes funcionais e mecânica de corrida estável. Quando esses critérios são cumpridos, o risco de recidiva cai drasticamente”, reforça.

A prevenção envolve múltiplos fatores: progressão de treino entre 5% e 10% por semana, dias de descanso, treino cruzado, fortalecimento de glúteos, quadríceps, posteriores e core, técnica de corrida eficiente e escolha do tênis adequado ao perfil e ao momento de treino. Alternar superfícies — terra, pista e asfalto — também reduz sobrecarga repetitiva.

A triatleta Sophy Mitie Sakahara, 22 anos, que já enfrentou lesões no joelho antes de voltar às competições, confirma a importância de reconhecer os sinais precocemente. “Quando comecei a sentir que tinha um joelho, porque o normal é nem lembrar que ele existe, percebi que havia algo errado. Sentia dor, estalos… até descobrir que minha patela estava saindo do lugar”, lembra. O início do tratamento exigiu mudanças imediatas. “Eu precisei diminuir drasticamente a intensidade. Em vez de ir com calma, atropelei tudo e acabei me lesionando. Por isso, tive de ficar ainda mais tempo parada”, relembra.

A recuperação foi lenta e exigiu disciplina. “Segui o fortalecimento à risca, mas estava muito insegura para voltar a correr depois de tantos meses parada”, conta. Hoje, como triatleta, mantém uma rotina estruturada para evitar recaídas: fortalecimento três vezes por semana, treinos em terra batida sempre que possível e ajustes constantes na técnica de corrida. “Aprenda a correr. Não adianta seguir conselho de quem vive lesionado. Fortaleça sempre e corra do jeito certo”, recomenda.

Com mais gente adotando a corrida como esporte e estilo de vida, ouvir o corpo e buscar orientação especializada continua sendo o caminho mais seguro para garantir longevidade no esporte e cruzar novas linhas de chegada com saúde.

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