Dr. Adriano Leonardi, ortopedista de joelho/Medicina Esportiva. (Foto: Divulgação)

Saúde

Regeneração da cartilagem através da engenharia de tecido

O intuito é criar uma proteção para que as celulas que migrem das perfurações osseas não se difundam para dentro do fluido sinovial e também protegendo-as de impacto mecânico

As lesões cartilaginosas no joelho são frequentes nos esportes. Tanto através de contusões, entorses ou por micro traumas de repetições, além de danos a ligamentos e meniscos, a cartilagem, tecido composto basicamente por colágeno tipo II e água, possui potencial de cicatrização muito limitado. Ao contrário da maioria dos tecidos do corpo, possui pouquíssimas células (hipocelularidade), não possui vasos sanguíneos (vascularidade), é aneural, ou seja, não possui terminações nervosas.

Em estudos laboratoriais, aparentemente, a lesão cartilaginosa, no momento de sua ocorrência, libera mediadores inflamatórios dentro da articulação, que iniciam ciclo vicioso auto perpetuante de morte celular e liberação de mediadores nocivos que resulta na redução da profundidade articular. Havendo perda estrutural, haverá, invariavelmente, distribuição anormal de peso entre os ossos, que resultará em deformidades, dor e limitação de movimento, processo também conhecido como osteoartrose. Isso, sem dúvida, leva a limitações importantes ao esporte, fazendo com que a lesão cartilaginosa seja o grande desafio da medicina esportiva da atualidade.

No decorrer dos anos, muitas técnicas cirúrgicas que estimulassem a cicatrização e o reparo da cartilagem articular foram desenvolvidas, mas nenhuma se mostrou, até hoje 100% eficaz. O raciocínio de que uma reposta inflamatória eficiente poderia se desenvolver não da cartilagem lesada, mas do osso abaixo dela, também conhecido como subcondral, levou ao desenvolvimento da espongilização, drilling e microfraturas que nada mais são que “raspagens” ou perfurações múltiplas, causando sangramento e, consequente cicatrização. Observou-se, no entanto, que o defeito cartilaginoso é preenchido não por tecido cartilaginoso, mas por fibrocartilagem, rica em fibras colágenas tipo I, com propriedades biomecânicas diferentes da cartilagem hialina articular. O paciente ideal para este procedimento são pessoas com idade acima de 40 anos, com múltiplas lesões, ou atletas de alta demanda com lesões pequenas, menores que 1 cm2. Esta técnica se tornou consagrada nos últimos 15 anos e tem como grande vantagem a possibilidade de ser feita por via artroscopia, muitas vezes com a possibilidade de alta hospitalar no mesmo dia.

Estudos publicados em revistas de impacto cientifico têm reportado, no entanto que apesar de eficaz na maioria dos casos, estaria ligada a taxa de falha e recidiva de sintomas em 2 anos, me media e um dos fatores para que isso ocorresse seria o crescimento desordenado das células tronco que migrariam das perfurações ósseas e com uma tendência maior na formação de cicatriz fibrosa (colágeno tipo I) e menos cartilagem hialina (colágeno tipo II). Tendo isso em mente e com a melhor compreensão da cicatrização do tecido cartilaginoso, recentemente o uso de biomembranas tem se tornado populares no arsenal do tratamento de lesões cartilaginosas entre cirurgiões de joelho. O intuito é criar uma proteção para que as celulas que migrem das perfurações osseas não se difundam para dentro do fluido sinovial e também protegendo-as de impacto mecânico. Durante o procedimento, o cirurgião então aborda o defeito cartilaginoso por via aberta, realiza as micro-fraturas, insere a biomembrana, e a costura em suas bordas.
A técnica possui a desvantagem de ser realizada por técnica aberta, sendo, portanto mais agressiva e com consequente maior tempo de reabilitação pós-operatoria.

Pessoalmente, costumo utilizar a Chondro-Gide®, uma estrutura de 2 biocamadas: um lado compacto e um lado poroso. A condrogênese (produção de celulas cartilaginosas) induzida por matriz autógena, AMIC®, é um inovador procedimento cirúrgico biológico desenvolvido pela Geistlich Surgery para o tratamento de lesões traumáticas condrais e osteocondrais.

Apesar de ser uma técnica ainda nova, os estudos de estudos recentemente publicados tem encorajado a comunidade cientifica. A técnica estaria ligada à produção de tecido cartilaginoso de melhor qualidade e estável e traria melhores resultados também em outras técnicas como o transplantes autologo de condrocitos, por exemplo.
Assim como em outras tecnicas, as biomembranas passarão por aprimoramento, visando serem menos agressivas e, em um futuro próximo, ser também realizada por video artroscopia.

Recuperação pós-operatória

Para melhores resultados, aconselha-se o uso de muletas por quatro a seis semanas (às vezes mais) sem soltar o peso no membro onde o joelho foi operado. Por se tratar de uma cirurgia aberta e, portanto, mais agressiva, os estágios iniciais da reabilitação incluem controle da dor, ativação muscular a fim de se prevenir atrofia do musculo anterior da coxa que, invariavelmente ocorre e manutenção do arco de movimento do joelho.

Quando possível, pode-se utilizar a máquina de CPM (Continuous Passive Motion), que mantem a flexão e extensão fisiológicas e contribui com o recrescimento ideal da superfície articular.
Os estágios seguintes incluem o fortalecimento e o reequilíbrio musculares e o retorno supervisionado ao esporte.

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