O mês de setembro é marcado pela campanha Setembro Amarelo, dedicada à valorização da vida e à prevenção do suicídio. A iniciativa chama a atenção para a importância do cuidado com a saúde mental, mas também abre espaço para reflexões sobre como ela se conecta a outros aspectos do bem-estar, entre eles, a saúde bucal.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno mental, incluindo ansiedade e depressão. Esses quadros podem gerar reflexos no corpo, entre eles o bruxismo, hábito de ranger ou apertar os dentes involuntariamente. Ainda de acordo com a organização, cerca de 30% da população mundial apresenta o problema, e no Brasil o índice pode chegar a 40%. Davi Cunha, cirurgião dentista, comenta que pacientes ansiosos ou em depressão frequentemente desenvolvem esse comportamento como forma de liberar tensão, mas que pode evoluir para complicações sérias.
“Com o tempo, o bruxismo causa desgaste acentuado dos dentes, fraturas, dores na mandíbula e até problemas na articulação temporomandibular. É um reflexo invisível da ansiedade, mas com impactos reais e muito prejudiciais à saúde bucal”, explica o Cunha.
Além disso, outro reflexo comum está relacionado à rotina de higiene. Pessoas em depressão tendem a abandonar cuidados básicos, como escovar os dentes ou usar fio dental regularmente. Essa negligência, que muitas vezes surge da falta de energia ou motivação, aumenta os riscos de mau hálito, cáries, doenças periodontais e até perda dentária em casos mais graves.
“A saúde bucal é muitas vezes vista como algo secundário, mas ela está diretamente ligada à autoestima e ao bem-estar. Quando um paciente em depressão perde o hábito de cuidar dos dentes, o quadro clínico se agrava, e as consequências podem impactar também sua saúde emocional”, complementa o especialista.
A ONU estima que apenas 9% das 970 milhões de pessoas que vivem com depressão no mundo recebem tratamento adequado. Nesse contexto, compreender a relação entre saúde mental e saúde bucal amplia o olhar sobre o cuidado integral. Não se trata apenas de prevenir doenças nos dentes e gengivas, mas também de recuperar a autoconfiança e a qualidade de vida.
O Setembro Amarelo, portanto, reforça que a valorização da vida deve ser entendida de forma completa. Integrar saúde mental e saúde bucal é um caminho essencial para oferecer bem-estar pleno aos pacientes e lembrar que o cuidado diário, mesmo nos pequenos hábitos, também é uma forma de preservar a vida.